quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Passeio de Domingo

    Sair para almoçar com a esposa no domingo pode se tornar uma grande cilada.


    Choveu e parou, pareceu que ia ficar assim o dia todo.
    Aquela moça que mora comigo chegou para mim e disse:
    - Me dá um celular de Natal?
    - Olha, vamos ver. Se tivermos condições até lá, não há problema nenhum. - Respondi.
    - "Tá". Então eu vou fazer o almoço.

    Ótimo! Adoro ficar em casa no domingo. Não sou daqueles que gosta de ficar batendo perna por aí. Mas minha alegria demoraria pouco, uns dez minutos talvez...

    - Amor, - Disse ela - como estou com muita fome e vai demorar para a comida ficar pronta, é melhor irmos almoçar no shopping. A gente come no restaurante japonês.
    - Mas você acabou de dizer que íamos comer aqui!
    - Mas estou com fome...
    É, só se esqueceu que o shopping fica a dois quilômetros!
    - Lawiny, você não está vendo que vai chover? E nós vamos estar na rua?

    Não acredito que concordei... Saímos.
    Andamos cinquenta metros e fomos abordados por um transeunte:
    - Senhor?
    - Sim.
    - Sabe me dizer aonde fica a Rua Marechal Floriano?
    - Sim, é a próxima, paralela a essa. - Apontei com o dedo.
    - Bairro Hauer.
    - Ih, cara, você está longe. Como a rua é muito extensa você vai ter que andar um bocado.
    - Cara, vou te falar a verdade. - O rapaz encheu de lágrimas - É que não sou daqui, vim da - casa do... não lembro o lugar que ele falou - e vou fazer uma entrevista de emprego nesse endereço.
    Ele me mostrou alguns papéis, entre eles o de antecedentes criminais.
    - Veja, não sou criminoso, sou trabalhador. Faço pintura automotiva. - Pela cor das unhas dava pra ver - E não como nada há dois dias.
    É, se não me pedisse nada eu ia estranhar.
    Bom, meu dinheiro já estava acabando, faltava pouco para o resto do mês, mas não me importei com isso.
    - Venha, não tem muitos lugares abertos, mas vamos naquele bar ali. - O conduzi ao lugar e continuei - Pode pedir o que você quer.
    - Pode ser um x-tudo?
    - Claro rapaz, peça logo dois para matar a fome.
    Pediu.
    - Pode ser uma coca?
    - Sim, não tem problema. - Apesar do meu ódio mortal pela coc...

    Paguei, me senti feliz. Nos cumprimentamos e... Chuva!
    - Vou ali em casa buscar o guarda-chuva. - Disse minha esposa linda e sorridente (leia "linda e sorridente" entre os dentes).
    E lá foi ela.

    Enquanto isso fiquei conversando com alguém que viu a situação e diagnosticou o lugar onde eu trabalhava por conta da logomarca do tamanho do mundo na minha camisa.
    Ela voltou e continuamos a caminhar.

    Com duzentos metros andados eu comecei a pensar com meus botões e falei:
    - Lawiny, se formos no shopping e você entrar em qualquer loja de celular que seja, eu te deixo e volto para casa na hora! Sozinho!
    - Acho melhor almoçarmos por aqui mesmo. - Disse ela apontando um bar/restaurante daquela rua.

    Resolvi não fazer caso e sentamos.
    Pedi um almoço pronto com frango e ela com bife e dois chopes. A garçonete aproximou uma outra mesa para caber as vasilhas de comida.
    Papo vai, papo vem, comento que gosto de conversar com pessoas inteligentes, que incitem meu raciocínio.
    - Você me acha inteligente? - Ela perguntou.
    Fez-se um breve silêncio até ela tentar mudar a posição das mesas e, com a leveza de um mamute, arrastou de tal forma que derramou meu copo de chope em cima de mim!

    - Ah, ótimo! Agora sim. Só porque eu não gosto de sair. Além de ter tomado chuva, só faltava mesmo um pouquinho de chope na calça e no tênis.
    - Desculpe...
    - Adoro esse tipo de programa...
    - Desculpe...
    Droga!

    A mesa em que estávamos sentados ficava na calçada e não demorou muito para o primeiro hippie que acha que fazer artesanato para não precisar trabalhar é uma boa pedinte aparecer:
    - Tudo bom casal? - Perguntou.
    Caras de tacho. - Recebeu de volta.
    - Eu sei que vocês jovens são muito preocupados com artesanato...
    É mesmo! O que sempre penso antes de dormir é exatamente sobre o futuro do artesanato!
    - Então saibam que não precisam se preocupar com a orelha porque meus brincos são feitos com fios de prata... - Essa baboseira continuou por uns dois minutos até eu mostrar a minha carteira sem nenhum tostão.
    - Eu vou pagar com o cartão refeição cara - respondi - não tenho como te pagar.
    E foi embora.

    - É, agora não falta mesmo mais nada. Se eu estivesse almoçando em casa nenhum hippie tinha vindo me importunar quando estou tentando comer tranquilo.
    - Se vier algum outro, nem deixa ele ficar falando, já diz que não tem o dinheiro e pronto. - Minha esposa tentando me ajudar...
    Mas é claro que não demorou cinco minutos para o outro idiota que pensa que é ótimo ser incomodado na hora do almoço ambulante se aproximar.

    - Oi casal...
    - Cara, pra poupar o seu tempo já vou dizer que não tenho dinheiro.
    - Meu, calma. - Disse ele. O que me deixou com mais vontade de lhe deslocar o queixo. - Deixa eu falar do meu trabalho primeiro. Eu sou amigo dos garçons, não tem problema. Você passa o cartão pra eles e eles repassam pra mim.
    - Bom, deixa eu te falar: eu não vou comprar nada!
    Antes dele sair, mas já saindo falou:
    - Humildade cabe em qualquer lugar.
    Então tenha a porcaria da humildade de me deixar almoçar!

    Agora dá pra ver porque eu gosto de ficar em casa. E não acabou não.

    - Bom, pelo menos eu ainda tenho esse saboroso pedaço de peito de frango...
    Ploft! Soltou do garfo e caiu no chão.
    É, agora é que não falta mais nada.
    Em casa daria pra lavar na torneira, mas tinha chovido e tinha lama no chão. Em segundos uma família de pombos já tinha tomado conta do lugar para comer aquele resto de frango.
    - Vamos pagar e ir embora.

    Saímos do lugar e fomos caminhar para fazer a digestão, e ouço:
    - Ah, queria caminhar por alguma rua que não conheço.
    Eis que respondo:
    - Aqui é o centro da cidade, tem as mesmas ruas de sempre. Posso te vendar e te soltar numa rua em que você não conhece!?
    - Não, sério... - continuou ela - O que tem pra lá?
    - É o passeio público!!! - Acredite, é um lugar conhecido em Curitiba. - É o passeio público!!! É o passeio público!!
    - Vamos lá então.
    E fomos nós.

    Chove, abre o guarda-chuva. Pára de chover, fecha o guarda-chuva.
    - Vamos pegar aquela direção ali e vamos pra lá.
    E eu aceito...

    A essas alturas eu já estava com as pernas encharcadas, o tênis... só faltava pisar numa poça de lama. É, pensando bem, faltou isso!
    Decidimos voltar. Graças a Deus!

    Chove, abre o guarda-chuva. Pára de chover, fecha o guarda-chuva (é, de novo).

    - Temos que passar no supermercado, vamos por ali.
    Fizemos as compras rezando para que desse menos de trinta Reais, pois era o que tinha no cartão. Deu certo, R$ 28,67. Compramos leite, pão, papel higiênico...

    Faltando quarenta metros para chegar em casa, vem na direção oposta uma mulher, aparentemente moradora de rua, com uma criança no colo e diz:
    - Moço, você não pode me dar uma caixinha só de leite? É pro menino.
    Como eu estava com doze:
    - Claro, pegue uma.
    Logo atrás dela vinha o resto da trupe de crianças que, com menos de vinte metros para eu alcançar o portão, me abordou:
    - Moço, você não pode dar para a gente uma caixinha só de leite?
    - Hei, mas eu já dei para a mãe de vocês ali, ó.
    - Mas é que não somos da mesma família não, só moramos juntos...
    Eu tenho onze caixas, tudo bem...
    Chego em casa com dez.

    É exatamente esse tipo de coisa que acontece nas saídas aos domingos. Ainda prefiro, e vou continuar preferindo por bom tempo, ficar em casa fazendo qualquer outro tipo de coisa.

5 comentários:

  1. Não sei se rio ou se sinto pena de vc....
    O q achei legal é q em um só domingo vc evitou q algumas pessoas passasem fome enquanto vc almoçava calmamente em casa...

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  2. boa boa... pense pelo lado positivo, só em um simples domingo vc passou por todas essas aventuras. Se estivesse em casa tranquilamente, nao teria nada de interessante para postar no blog...kkkkk...

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  3. rsrsrsrsrsrsrs....
    não inacreditavel como um simples passeio pode se tornar "perigoso" hahahahaha....
    leveza de um mamute foi demais pra mim!!!!!!
    bom mas pense pelo lado positivo, em partes do passeio você ajudou pessoas que certamente outros não o teriam feito!!!!!!

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  4. É por isso que eu sou anti-social, e, se pudesse, ficaria em casa TODOS os dias...

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  5. É, ao mesmo tempo que prefiro ficar em casa penso no que a Camila disse acima. Minha vida não teria a mesma graça.

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