Encontrando Lawiny

    Encontrei o local das escavações. Entrei em outras três câmaras antes de encontrar a correta. Fui descendo por aquelas escadas arcaicas, talhadas somente para dar acesso aos cômodos suspeitos de terem algo relevante à arqueologia.
    Já era tarde e a iluminação na descida não ajudava, lá embaixo havia somente uma tocha acesa, presa à parede. Vi uma silhueta de longe, alguém estava abaixado à direita, observando algo. Tinha os cabelos lisos, longos e negros e usava uma calça saruel (fui descobrir o que era uma calça dessas muito depois), de cor crua, bege. Não se importava em arrastar as roupas na terra.
    Mas antes de chegar perto o suficiente para ser percebido, me detive. Senti algo ruim, aquele frio congelou minha espinha, os pêlos dos meus braços se arrepiaram... Pressenti o mal.
    Olhei para trás e, claro, havia um homem me seguindo. Ele tinha feições orientais, mais baixo que a média. Estava de terno claro, não totalmente branco. Veio descendo em minha direção e eu dei alguns passos para trás enquanto o observava, e ele a mim. Minha maleta na mão esquerda já estava de sobreaviso, para uso em emergência.
    Sabendo que não se tratava de um ser humano qualquer e tentando chamar a atenção de quem estava lá dentro, para que tivesse tempo de correr, eu disse alto:
    - Hei! Deixe-me entender. Estamos em Jerusalém, é terra sagrada, você não devia poder pisar por aqui não é?
    A resposta não me agradou muito:
    - Quem é você para me dizer onde eu posso ou não posso pisar?
    Continuei andando de costas enquanto ele vinha ameaçadoramente, mas nossos olhares tomaram outro rumo de repente:
    - O que vocês estão fazendo aqui? Não tem autorização de estarem aqui! – Disse a voz feminina mais incrível que eu já ouvi.
    - Não disse que o senhor não podia pisar aqui? – Disse eu, apontando para o sujeito.
    - Nenhum de vocês pode pisar aqui, saiam imediatamente! – Ela elevou o tom da voz e apontou a saída.
    Andando de costas não percebi que já tinha passado pela moça. Ao dizer a última frase ela ficou muito perto daquele outro e pôs a palma da mão em seu peito. Meu coração parou! Havia outras tochas no recinto, mas só uma acesa, e essa... apagou.
    O breu tomou conta do lugar, fiquei sem saber o que fazer e desferi diversos golpes sem sucesso na direção de onde estava o meliante:
    - Iá! Iá! Iá! Iá! Uuuuuuiá! Hu! Hu! Tome-lhe! Tome-lhe! - (Agora parece engraçado, mas na hora... é... na hora também pareceu engraçado...)
    Um vento muito forte passou e me derrubou para trás. Caí em cima da maleta e não hesitei, abri e tateei a cruz. Segurei-a com toda a força e trouxe-a para perto dos lábios. Abaixei um dos joelhos em reverência. Minha oração pareceu ter demorado uns cinco minutos, mas passaram-se somente alguns segundos:
    - Mais uma vez preciso de ti Senhor. Fico honrado em necessitar, pois tenho total consciência de que quando sou fraco é que sou forte. Não quero que lute minhas batalhas por mim, nem que diminua o peso de minha cruz. A única coisa que eu preciso agora é LUZ!
    Minhas orações normalmente vêm em inglês, talvez por conta da minha educação. Só sei que quando vem do coração, vem assim. Quando eu disse “light”, saiu em voz alta. Todas as tochas acenderam. E eu pude ver claramente com quem estava lidando.


    Próxima leitura: "Encontrando Lawiny II".