Leitura anterior: "Encontrando Lawiny II".
Guardei a cruz na maleta e me aproximei da moça. Mesmo machucada ela era linda, uns dez anos mais nova do que eu. Quando abaixei para ver se estava respirando ela me percebeu. Saiu se arrastando de costas, escorando na parede, e levantou.
- Você tem cinco segundos para dizer quem é e o que está fazendo aqui. - Ela disse isso enquanto riscava alguma coisa no ar com as mãos, com movimentos suaves e compassados. Eu conhecia muito bem esse tipo de gesto por ter amigos magos e, pela falta de fetiches¹ materiais, deduzi que ela usava o Caminho do Ar. Talvez ela tenha usado magia contra o Renoir quando ficou escuro, por isso senti aquela rajada de vento. - Pensei. E lembrei das palavras de Renoir sobre ela ser mais forte que eu... Quanto mais eu pensava mais me segurava para não sujar as calças. Virei de lado, protegendo meu rosto com os braços e com a maleta e implorei:
- Não solta! Não solta! Eu digo. Eu sou Dyan! Vim aqui acompanhado por Uran Gevault, ele te conhece. Diz que conhece ele. Diz que conhece ele, por favor...
Minha esperança de que ela repensasse deu certo, abri o olho esquerdo e olhei por entre os braços. Ela havia abaixado os dela, o que me deu segurança para conversar civilizadamente. Me recompuz, ajeitei meu paletó e disse:
- Foi assim que consegui chegar aqui. Ele é muito influente nesse meio, apresentou uma carteira de pesquisador na barreira montada aí fora e ficou no carro me esperando. Vamos comigo para você poder falar com ele e a gente esclarece isso tudo.
- E quem era seu outro amigo? - Ela perguntou referindo-se ao Sephirot. Percebi então que ela não tinha visto o monstro... Só se lembrava do homem de terno claro. Aproveitei que as roupas dele tinham se rasgado na transformação e respondi:
- Oras, ele não é meu amigo! Não vê que coloquei ele pra fora daqui? Olha os pedaços de roupa dele ali no chão... - E apontei. - Talvez ele esteja atrás da mesma coisa que eu.
- Que seria...?
- Seu trabalho. - Respondi enquanto caminhava para fora. - Vamos andando que te explico no caminho. Quando saímos da caverna apontei para o Hyundai Getz que alugamos em Tel Aviv, onde Uran esperava. Fui caminhando na frente e ela me seguia ressabiada, olhando para todos os lados.
- Ali está. Já, já esclarecemos tudo isso...
- Ele foi meu professor de Filosofia e Mitologia. - Ela pareceu mais segura em falar comigo. - De onde você o conhece?
- Na verdade o motivo pelo qual o conheci foi exatamente chegar até você.
- Como assim?
- Você lida com artefatos antigos. Uran escreve sobre artefatos antigos... Eu encontrei alguma coisa e o procurei para me ajudar. Ele me sugeriu falar com você, alguém que ele confia e que certamente saberá o que fazer com o que encontramos.
- Com o que você encontrou ou com o que encontraram? - Ela perguntou para me pressionar.
- Veja, - Respondi. - eu encontrei um objeto, e ele, outro. Simples.
- Humm... - Ela deu um passo a mais e se alinhou comigo. - Deixa eu te fazer outra pergunta antes de chegarmos no carro: Por que você disse “não solta, não solta” ali na câmara?
Certamente que eu não ia responder isso naquela hora, então apressei o passo e dei uma resposta qualquer:
- Eu estava muito nervoso, nem sei o que falei direito. Dou graças a Deus que você não me arrebentou ali...
- Se tinha medo de eu te bater, como se livrou do outro homem?
A proximidade era providencial:
- Uran, me salva. - Me aproximei da janela onde estava. - Diz para ela que nos conhecemos e que estamos aqui por um motivo muito importante...
De dentro do carro ele olhou para cima, para mim, e fez um movimento com a cabeça para que eu saísse do caminho da porta. Abriu o carro e caminhou como se eu não estivesse ali e se virou para a mulher:
- Lawiny Torah, quanto tempo. - Lhe segurou a mão direita e deu um beijo. - Realmente temos assuntos de elevada importância que gostaríamos de discutir com a senhorita. Todavia não considero prudente conversarmos neste âmbito, peço que nos oriente melhor recinto para obtermos maior privacidade e quietude. Queira entrar no carro, por obséquio.
A esse ponto eu já havia me acostumado com o jeito dele falar. As aulas dele devem ter sido muito difíceis. Lawiny sentou no lugar do carona e eu fui para o banco de trás, e disse ao Uran:
- A Lawiny me contou que foi sua aluna. Agora, pela velocidade com que você fala, só a sua matéria deve ter durado uns cinco anos... - Não detive o riso... e nem ela.
- Ignore-o, Lawiny, ele não considera conter-se... Mas, diga, para onde vamos?
¹ Fetiche: objeto ou conjunto de objetos utilizados na confecção de um ritual de magia.
O texto é legal e mantém o nível dos anteriores. Também desperta a curiosidade sobre o que vai acontecer. Mas não pude deixar de notar erros nas colocações de algumas vírgulas. E "protegendo" é com "g". (Desculpe, eu precisava dizer...)
ResponderExcluirMesmo assim, ótimo texto!
Cwkruger, não precisa se desculpar. Nunca me eximi de tentar melhorar meus textos a partir de críticas, muito menos das coerentes.
ResponderExcluirRevi as vírgulas e, certamente, o "protegendo". Se ainda houver algo fora dos eixos, por favor, me avise.
Agora é ir em frente!
Grande abraço.
noss moo legal fizeram um texto com o meu nome.....lindoo adorei
ResponderExcluirSabia que você é a primeira Lawiny que conheço? Além da que eu inventei... Veja que o primeiro post desse blog é exatamente sobre a Lawiny: http://esperatus.blogspot.com/2009/09/se-arrependimento-matasse.html.
ResponderExcluirQue bom que gostou, volte outras vezes. Dê sempre sua opinião.
Grande abraço.
muito bom Dyan... anseio para ler o próximo...
ResponderExcluirMuito bom Dyan, eu leio e fico lembrando de tudo que já aconteceu e é bom saber que não acabou, mas e os outros personagens?? Morreram? Os textos estão legais a escrita se tornou de fácil entendimento, diferentemente do que foi no conto "Conhecendo Uran". Show de bola... continue e post também o que aconteceu com os outros. Ah e pode falar comigo agora!! kkk
ResponderExcluirUhaushauashauhsahs
ResponderExcluirQuer dizer que leu tudo então! Obrigado pela dedicação.
A parte "Conhecendo Uran" é, de certa forma, mais complicada, por conta da forma com que fala o próprio Uran. Ele tem esse estilo de conversa, sempre com palavras esquisitas e mudando algumas frases de lugar. Quando eu postar o "Conhecendo Uran II" verá que a linguagem usada será a mesma e a dificuldade na leitura permanecerá. Inclusive é extremamente complicado para mim, fazer os diálogos do Uran, pelo fato dele ser bem mais culto que eu e usar palavras rebuscadas que, às vezes, nem eu mesmo nunca usei...
Quanto aos outros personagens, nos primeiros alfarrábios eles morriam muito antes de eu conhecer o Uran... mas na verdade foram para o inferno, na cena em que Renoir Sephirot é separado do meu corpo. Depois disso não falo deles pelo fato de realmente não estarem comigo naqueles momentos... porque temos que lembrar que continuamos com o Clube de Caça funcionando em NF, e não podemos deixar nas mãos de um simples mordomo, podemos?
Grande abraço cara. Obrigado por ter lido.