Igor acordou extremamente feliz, uma de suas alunas iria se apresentar essa noite, ministrando oficinas sobre malabares e equilíbrio corporal, promovidas pela ManausCult - Fundação Municipal de Cultura e Artes. Ele já trabalhava na Escola Nacional de Circo no Rio de Janeiro há quase 10 anos, mas essa foi a única aluna que realmente lhe chamou a atenção. Quando se deu conta já estava apaixonado...
e agora precisava sair para almoçar e pegar o vôo para Manaus, deveria chegar lá pouco antes das 15h. Com seus 1,78 metro, não era tão alto, mas tinha lá seu charme. O rosto fino contrastava com o queixo um pouco largo, quadrado. Era magro, mas nem tanto, por causa de todos os exercícios que alguém do circo pratica. Possuía os cabelos e olhos pretos e mantinha a barba curta e bem feita. Vestiu calça jeans e uma camisa social de listras verticais em dois tons de azul. Calçou o sapato preto e saiu.
O que posso dizer de sua história agora é que ele nasceu no circo. Seu pai, Matias Stankovich, veio da Itália com seus avós junto com a comitiva da Cia. Circo In Bottiglia. Sua mãe era brasileira, cigana cartomante, e havia se juntado ao grupo do circo em São Paulo. Nunca se casaram oficialmente, mas só se separaram quando o grupo voltou à Itália, o que fez com que Igor e sua mãe perdessem o contato com Matias. Ele aprendeu muito com os pais sobre técnicas de persuasão, mágica, prestidigitação, ilusionismo...
Após o voo de quatro horas desembarcou no Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Sua mala foi uma das últimas a passar pela esteira, apenas outra pessoa também aguardava alguns metros a sua frente.
Nela estavam roupas necessárias para dois dias e uma adaga, instrumento esse que recebeu no ritual cigano de passagem da adolescência para a vida adulta, tinha uns quarenta centímetros. Esse item é entregue ao cigano como “símbolo das mudanças necessárias que a vida nos oferece para crescermos”, mas a dele era especial.
Ele retirou a mala da esteira e se virou para sair, mas um homem estava parado logo atrás e o impacto entre os dois foi inevitável.
- Opa! Me desculpe. Não percebi que estava aqui. - Disse Igor, sorrindo um pouco desconcertado e dando um passo para o lado. Ao que ele deu esse passo o homem também deu, impedindo a passagem.
- Ouça, ninguém quer gente machucada aqui. Sugiro que você colabore.
Esse homem era mais baixo do que Igor, cheinho, mas não gordo. Tinha uma barba por fazer, olhos fundos e usava uma boina cinza, combinando com o terno velho da mesma cor esbranquiçada. Nesse instante ele puxou uma das partes do terno mostrando o cabo de sua pistola, embainhada por dentro da calça.
- Meu Deus, o que é isso? - Igor falou em meio tom para não desagradar e continuou. - Tenho certeza de que está havendo algum engano.
- Não há engano, me acompanhe doutor Tarouco.
- Meu nome não é esse! Quer ver meus documentos?
- Não quero ver nada! - Respondeu entre os dentes. - Apenas venha comigo.
Igor não atendeu e começou a caminhar em direção à saída da área de bagagens. Logo sentiu o cano da pistola encostar em suas costelas na parte de baixo das costas.
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