Seguro Desemprego - O Saque Impossível

     A primeira parcela do meu seguro desemprego estava disponível desde o dia 04/7, mas resolvi ir na Caixa sacar apenas hoje 17/7. O rapaz do Ministério do Trabalho havia escrito “direto no caixa” no topo da folha de retirada. Pensei comigo: será que vai ter algum tipo de bloqueio pela minha demora?, mas não tive problema por causa da demora, acredite, foi muito pior. Não deixei para sacar hoje por descuido, nas últimas tentativas o sistema da Caixa estava fora do ar.
     Desci com meu filho de um ano e sete meses no colo e com minha esposa, grávida de sete meses. Achamos que seria uma coisa rápida, apenas ir até o caixa para pegar o dinheiro... doce ilusão.
     Chegamos e entrei na fila da senha. Pasmem, um homem furou a fila na minha frente, embora ela estivesse grávida e eu carregando uma criança! Fiz questão de olhar nos olhos dele assim que ele retirou sua senha e dizer: “tudo bom?”. Ele ficou meio sem entender, mas logo entendeu.
     Subimos as escadas, pois os guichês não ficavam no mesmo piso. Cumprimentei uma amiga antiga de escola e um dos seguranças que conheço. Eis que aquele homem furador de fila veio e me disse:
     - Rapaz, percebi que entrei na frente de vocês ali em baixo. Se quiser, pode trocar de senha comigo.
     Eu respondi que não precisava se preocupar, que podia ficar de consciência tranquila. Até porque eu não iria trocar a senha preferencial que eu tinha pela dele.
     Fui até o caixa, uma mulher me atendeu, pegou os documentos e disse:
     - Ah, senhor. Esse dinheiro foi depositado direto em sua conta.
     - Minha conta?

     - Sim, sua conta da Caixa.
     - Mas eu não tenho conta na Caixa!
     - Está aqui senhor, uma conta de Curitiba.
     - Eu morei em Curitiba, mas não tenho conta nenhuma, nem cartão, nem senha, nem nada.
     - Sinto muito. Não posso retirar o dinheiro para o senhor. Pode conversar com a gerente, por favor. Aqui em baixo, Marta ou Daniele.
     Se o governo ia depositar em uma conta, por que o caboclo que me atendeu no Ministério do Trabalho escreveu para sacar no caixa?
     Sem acreditar no que estava acontecendo eu desci e tentei encontrar a Marta, que, óbvio, não estava ali. Eu digo “óbvio” porque quem me conhece sabe a raiva que o universo tem de mim e então sempre tenta me tirar do sério. Se o universo conspirasse contra alguém, esse alguém seria eu.
     Mais uma vez pedi auxílio à menor aprendiz que me direcionou à Daniele. Para a mesa dela havia três pessoas em fila. Claro, eu não podia crer que seria atendido prontamente com o universo a meu desfavor. Muitos minutos depois, fazendo de tudo para distrair meu filhote nos braços, uma senhora vai à mesa da Daniele. Suspeitando que essa fosse a Marta, minha esposa a abordou.
     - Olá, tudo bom? Você é a Marta? Poderia nos ajudar?
     - Estou saindo para o almoço.
     - Sim, mas estamos com criança e apenas queremos uma direção.
     - Hum.
     - A moça disse que o dinheiro do seguro caiu em uma conta que nem temos conhecimento. E agora não conseguimos sacar.
     - Sim, é isso. O dinheiro do seguro desemprego agora cai direto na conta do favorecido.
     - Mas é em Curitiba, não temos nem cartão...
     - Então tem que fazer uma conta aqui e transferir o dinheiro. - Ela disse isso já andando em direção a um caixa. E gritou de longe para mim:
     - Está no seu nome mesmo?
     - Não faço idéia! - Respondi abrindo as mãos e levantando os ombros. - Não tenho essa conta...
     Ela foi à outro caixa e retirou uma senha. Entregou a mim e disse:
     - O rapaz vai abrir a conta para você.
     - Obrigado. - Respondi. - Poderia apenas nos fornecer uma senha preferencial?
     - Não. A senha preferencial é para quem precisa.
     - Mas minha esposa está grávida! Estamos com o bebê!
     - Mas ela é que está, você não! Quem precisaria de senha seria ela, e o atendimento é pra você.
     Minha raiva subiu tanto que evaporou. Eu apenas olhei para ela como quem diz queime no inferno, depois fiz cara de coitado e virei as costas. Ela saiu e, de repente, voltou com uma senha preferencial. Acredite, com essa senha preferencial aguardamos mais vinte minutos em pé. Com esses vinte, já estávamos lá dentro há quase uma hora.
     O rapaz me atendeu e fez todo o trâmite para abertura de conta. Pegou meus documentos e me fez assinar uma penca de papel. Eis que eu pergunto:
     - Veja, na confirmação do CPF meu nome está incompleto, está com o nome de solteiro.
     - Hum. Pior que é. - Ele respondeu. - Não sei se vai dar para abrir a conta então, por causa da divergência.
     - Mas veja, eu sou casado há seis anos, já abri algumas contas no Paraná e em Minas Gerais, isso nunca foi problema.
     Sim, eu mudei meu nome depois do casamento. Inseri o sobrenome de minha esposa antes do meu.
     Eis que surge a educadíssima Marta para interromper respondendo:
     - É, mas a Caixa começou a fazer a conferência na Receita tem uns cinco anos. Antes não precisava.
     - E aí, o que faço?
     - Você pega esse documento e vai nos Correios, para fazer a atualização do CPF.
     Ufa! pensei comigo. Agora é só ir nos Correios, atualizar o nome, voltar à Caixa, pegar uma senha, aguardar nas filas, abrir uma nova conta, pedir transferência do dinheiro, aguardar o prazo, e retirar! Nossa! Que simples!
     Percebendo que a Daniele estava disponível falei com ela:
     - Daniele, tudo bom? Desculpa incomodar... - E contei minha situação. E ela respondeu:
     - Não tem jeito, vai precisar abrir a conta mesmo. Mas não se esquece de ir lá em cima e pedir para desvincular sua conta antiga do seguro, senão sua próxima parcela vai cair lá de novo...
     Eis que me lembro que, há muito tempo atrás, quase dez anos, eu tive uma conta na Caixa lá em Curitiba. Eu ainda não trabalhava e esse foi o meio que encontramos na época para minha mãe enviar dinheiro.
     Fui aos Correios...
     Não demorei para ser atendido. Repassei o problema à moça que me atendeu e me pediu um documento de identificação. Como eu só uso a Carteira de Habilitação, entreguei. Eis que ela disse:
     - É, está faltando um sobrenome aqui no cadastro.
     - Exatamente, é o que precisamos corrigir.
     - É, mas os documentos não batem né...
     - Isso, não batem porque meu nome está diferente.
     - Não, precisa do nome da mãe.
     - Ei, o nome da minha mãe está aí!
     - Como é o nome dela?
     - Vanessa Tales de Oliveira Hilton.
     - Olha aqui seu documento e vê se é isso.
     Eu li em voz alta e estava escrito Vanessa Tales de Oliverira Hilton.
     - É isso?
     - Oras, isso é apenas um erro de digitação!
     - É, mas mesmo sendo um erro do Detran, eu não posso fazer nada por você. Você vai precisar ir na Receita Federal e refazer por lá.
     Tenho muita confiança em dizer, leitor, que você precisou ler novamente para perceber o erro de digitação que há em meu documento. Uma letra “r” que ninguém até hoje percebeu e, que se ela não tivesse percebido, não teria dado problema nenhum. Mas convém lembrar do interesse do universo em me prejudicar. Eu não consegui dar nenhum passo sem ser impedido.
     Aí sim eu pensei ah, agora ficou bem mais simples. É só ir na Receita Federal, explicar o erro do Detran na habilitação, solicitar alteração de nome no CPF, aguardar a alteração, voltar à Caixa, pegar uma senha, esperar nas filas, abrir uma nova conta, pedir transferência do dinheiro, aguardar o prazo, e retirar! Yupe!
     Ó universo infalível! Por que conspirastes contra mim? Eu desci para sacar um dinheirinho do seguro desemprego e me surpreendem com uma quantidade impressionante de impossibilidades e erros do governo nos meu dados!
     Agora, raciocinando com frieza, percebo que seria melhor para o Brasil se isso acontecesse com todo mundo. Se cada desempregado enfrentasse isso para retirar o seguro, certamente ele iria se esforçar com muito mais afinco para conseguir um emprego e se manter nele.

     Fica aí meu sentimento no fim de tudo: espero que quando você precisar retirar seu seguro desemprego passe por tudo o que passei, pelo menos terei a ilusão de que o universo está sendo um pouco justo. Brincadeirinha...