sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Quem Não Procura Também Acha - Capítulo 5

     Igor percebeu que aquele homem estava realmente falando sério e aparentava uma raiva sem explicação. Parecia poder fazer uma besteira a qualquer momento. Ele conduziu Igor até uma van preta no estacionamento, ignorando todas as tentativas do circense de convencê-lo de que aquilo era um terrível mal entendido.
Após entrarem na carroceria da van, o bandido amarrou seus braços e ficou de pé em sua frente, apontando sua pistola em direção à face desacreditada de Igor. Outro homem ficou de guarda na porta de trás, por fora do carro. Não se passam nem dois minutos e mais três pessoas são jogadas lá dentro e o carro parte em disparada.
     - O que está acontecendo aqui? - Henrique grita enquanto cai de lado no ferro gelado do fundo do furgão.
     - Fiquem quietos. - Responde um dos três sequestradores que estavam ali dentro. - Em pouco tempo isso terá acabado.
     - Tenho certeza de que cometeram um erro! Não somos ninguém, o que querem com a gente? - Ed perguntou em tom grave.
     - Senhor Tarouco, não seja inocente. Nós sabemos que encontrou um objeto na floresta...
     Antes de terminar, o comparsa baixo de boina interrompeu:
     - Hey! Esse não é o Tarouco. Tarouco é esse aqui! - E apontou para o Igor.
     - Meu Deus! Quem é esse cara? - Voltou a falar o primeiro, sem acreditar no que via.
     - Eu sou o doutor Tarouco. - Respondeu Igor.
     Igor conhecia a arte de dissimular e persuadir. Vendo a confusão dos sequestradores, acreditou que podia tirar proveito da situação...
     - Como assim você é o doutor Tarouco? Está louco? Quem é você? - O verdadeiro Tarouco se enfureceu com a falta de lógica daquela situação. Se esgueirou para frente, como se quisesse morder o Igor, mas era apenas uma artimanha para tentar soltar as cordas das mãos. Claro que todos os amarrados estavam tentando isso, mas Ed foi o único que conseguiu. E ficou na dele.
     - Calem a boca! - Gritou o homem de preto. E se fez silêncio. - Não quero saber qual de vocês é quem, agora vocês dois são um Tarouco só!
     - O que vocês querem? - Aghata se pronunciou pela primeira vez, com a voz suave, como se estivesse apenas observando pacientemente tudo o que se passava.
     - O objeto. Apenas o objeto.
     Depois de quinze minutos a van parou. E o rapaz todo de preto disse:
     - Vocês três irão buscar o elmo, nós vamos esperar com essa bela moça aqui. - Apontou para a Aghata. - Tem até o amanhecer.
     Era quase quatro horas da tarde, o céu estava fechado, cinza, mas não estava muito frio. Os homens empurraram Igor, Tarouco e Henrique para fora do furgão, que caíram no chão de barro vermelho, de uma estrada que margeava a floresta. Enquanto um desamarrava Igor e Henrique, aquele de preto foi desamarrar Ed, mas ele já estava desamarrado...
     Atingiu o lado esquerdo do rosto do rapaz com uma cotovelada tão forte que obrigou o bandido a se apoiar no chão com as mãos para não cair. Ele se recompôs e nem olhou de volta para Tarouco. Entrou no furgão e violentamente deu uma coronhada na face de Aghata, que desabou desacordada com o nariz sangrando.
     - Não! - Tarouco gritou percebendo que tinha feito uma bobagem. Henrique pensava em tudo o que podia fazer naquele momento para salvar Aghata, mas o que fizesse conspiraria, ainda mais, exatamente contra ela.
     O homem voltou e retirou um celular do bolso. Fez alguns movimentos no touchscreen e mostrou a Tarouco. O que ele está fazendo com uma foto da minha mãe? pensou ele com a expressão de desespero no olhar. Com uma meia volta do corpo ele apontou o celular também para que Igor visse, por conta da confusão dos Taroucos.
     Igor arregalou os olhos e disse “meu Deus!”, continuando com sua farsa.
     Os sequestradores os deixaram ali e entraram no furgão, acompanhando por pequenas janelinhas na parte superior da traseira. Nem chegaram a revistar nenhum deles, demonstrando total amadorismo.
     Os três se olham incrédulos, em pé, naquela estrada de chão, no meio do nada, enquanto batiam o barro das roupas.
     - Esperem! - Gritou Igor para a van, lembrando que tinha esquecido algo valioso. - Não vamos conseguir fazer nada sem as nossas coisas!
     Surpreendentemente a porta se abriu e a mala de Henrique foi chutada para fora. Tiveram um momento de reflexão silenciosa, ele pegou sua mala e pediu que andassem, e andaram ainda quietos. O silêncio foi quebrado a uns cem metros da van, quando Henrique sacou sua 9 M973 e apontou contra os outros:
     - Mão na cabeça! Os dois! Mão na cabeça!
     - Espera, que foi? - Tarouco questionou enquanto obedecia.
     Igor balançou a cabeça com uma expressão de descrença, meu Deus que atitude desnecessária, pensou. Com uma calma improvável para o momento ele lentamente subiu as mãos até a cabeça e olhou nos olhos de Henrique.
     - O que está acontecendo aqui? - Continuou Henrique em tom firme, sem gritar, e focou sua pistola em Igor. - Quem é você? Se conhecem? Porque se passou pelo Tarouco?
     A expressão de Igor trazia um misto de desdém e confiança. Transmitiu uma segurança acima do normal quando disse:
     - Naquele momento era interessante confundir os sequestradores. Quando percebi que discordavam entre si usei dessa estratégia. Estava claro que precisavam da gente, quer dizer, de vocês. O que eles iam fazer com um artista de circo desconhecido na van? É óbvio que me pegaram por engano! Me fazendo de um de vocês ainda preservava a minha vida. Eu sou Igor Stankowich, meus documentos estão aqui, pode verificar.
     Ele se virou e Henrique retirou sua carteira do bolso de trás enquanto fazia sinal com os olhos para Ed, demonstrando que podia abaixar as mãos. Afastou uns três passos e observou os documentos. Originais, tudo correto. Como se fosse convencido por dentro de que Igor era uma boa pessoa, devolveu a carteira.
     - Agora precisamos esquecer qualquer diferença, e encontrar uma maneira de resolver nosso problema. Eles estão ameaçando a minha mãe! - Disse Tarouco tentando colocar a própria cabeça e a dos outros no lugar.
     - É verdade. - Completou Henrique, guardando sua arma. - E tem a Aghata lá dentro. Não podemos deixar que nada aconteça com ela. Nenhum artefato vale mais que uma vida.
     - Vocês estão certos. O que precisamos fazer é recuperar aquele elmo. Onde ele está mesmo? - Perguntou Igor.
     - No Comando Militar. - Respondeu Ed. - E, se me lembro dessa rua, é bem ali na frente.

     Leitura anterior: Capítulo 4

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