sábado, 14 de novembro de 2009

Encontrando Uran

    Depois que consegui reunir as sete notas de Real, uma de cada valor, (é uma longa história, eu conto depois) voltei no subterrâneo do Ibama em Brasília. Fiz aquele caminho cheio de labirintos (fisícos e psicológicos) e cheguei até a bancada de mármore. Posicionei as notas nos orifícios e encaixei as patas da aranha de ouro nos oito buraquinhos específicos.
    Ao soltar a aranha os animais das notas ganharam um contorno dourado, forte, como se acendessem uma luz por baixo. Ficou assim durante uns cinco segundos e, então, um compartimento no mármore carrara à minha frente abriu, na altura do meu peito. Tinha uma espada lá, deitada em uma almofada azul.
    Me inclinei sobre o balcão e retirei a espada (é, não cogitei pegar a almofada), era simplesmente incrível. Estava em perfeito estado como se nunca tivesse sido usada, porém dava-me a certeza de que era muito antiga.
    Um gladius certamente, mas diferente dos convencionais. A lâmina era menos larga perto do punho dourado, alargava mais para frente e fechava na ponta, como um peixe. O cabo tinha um desenho esquisito, nunca tinha visto: parecia o cabelo do Cebolinha em cima de dois "meio-semi-círculos" na horizontal. Desenhozinho difícil de se descrever.
    Abri o alçapão à esquerda da bancada e fui embora dali com a espada (claro que levei as notas e a aranha).
    Voltei ao hotel, tomei um banho e ponderei sobre aquele artefato: "o que uma espada romana tem em comum com a Maçonaria? Ou com o Grão Mestre brasileiro, Sr. Fábio Homero Calisto?"
    Eu só conseguia pensar em teorias conspiratórias mundiais, que envolviam as seitas religiosas mais antigas e passagens bíblicas intrigantes. Pare de pensar isso Dyan, se foi o Fábio Homero que escondeu, deve ser algo mais pessoal...
    Me detive na onda de pensamentos quando lembrei de um livro que havia lido. Ele falava sobre uma armadura descrita na Bíblia, em Efésios. Descrevia as possíveis "habilidades sobrenaturais" que os supostos itens teriam se existissem. Bom, eu já estou até o pescoço com o sobrenatural mesmo, não custa nada dar uma chance a essa possibilidade.
     Comprei o livro por ali mesmo e reli. O autor acreditava que, se a espada desse conjunto realmente existisse, seria um gladius (impressionante) e que uma das habilidades possíveis seria a de simplesmente destruir uma alma, ou espírito, para sempre!
    Esse livro chama "A Armadura de Deus - Desespiritualizada", de Uran Gevault.

    "Uran Gevault, autor de livros como 'Desmistificando Mitos' e 'Incas Entre Nós', nasceu em Arles - França, onde viveu até ser contratado pela Biblioteca Sainte Genevieve em Paris. Formado em Letras, começou a escrever aos 25 anos e não parou desde então, sempre focando os enigmas culturais e curiosidades mitológicas tantas vezes forçados pelas sociedades."

    Era isso que dizia a contra-capa. Não comentaram que ele havia perdido o pai em circustâncias macabras, descoberto uma biblioteca escavada em sua vinícula e que ele foi meio que responsável por eu ter conhecido minha atual esposa. Mas isso eu também só descobri depois que viramos amigos...
    Minhas incursões na internet revelaram que ele estava em Paris, dando palestras. Não hesitei: levei todas as minhas coisas para Nova Friburgo no Rio, onde moro e mantenho minha "base de operações" e voei para a França.

_-_-_-_

    Assisti a uma de suas palestras, falava sobre o povo de Nazca e seus geóglifos no deserto peruviano. Esperei terminar e fui ao seu encontro. Aguardei a minha vez na fila e fui direto:
    - Boa noite Gevault. Sou Dyan Esperatus. Preciso muito falar com o senhor sobre um de seus livros.
    Era calvo na parte frontal da cabeça, a parte com cabelo era grisalha. Tinha a barba bem feita, toda branca, quase chamei de Sean Connery...
    - Tudo bem, - disse sereno, ajeitando o paletó azul marinho. - mas aguarde um momento naquela sala. Preciso falar com umas pessoas e já te atendo.
    Ele se demonstrou tranquilo, mas não conseguiu disfarçar o interesse no olhar.
    Depois de conversar com os críticos e responder umas perguntas sentou-se no sofá à minha frente:
    - Dyan, certo? - Me estendeu a mão enquanto eu acenava positivamente com a cabeça. - Sobre o que mesmo o senhor precisava conversar?
    - Bom, gostaria de saber as origens de suas motivações para escrever acerca da Armadura de Deus nesse livro, - eu estava com o livro na mão. - e sobre as implicações se fosse verdade.
    Ele se inclinou para frente no sofá, apoiando os cotovelos nos joelhos. As mãos estavam em posição de oração, com os dedos entrelaçados. Olhou dentro dos meus olhos e levantou lentamente as duas sobrançelhas:
    - Esperei ansiosamente esse momento por toda a minha vida.
    Fez-se um silêncio.
    - Eu me lembro de você. - Continuou ele apontando para mim. - Você foi o advogado em um caso que ficou conhecido por causa dos artefatos de procedencia duvidosa. Eu pesquisei sobre os instrumentos na época... - Colocou o indicador no queixo. - Devo ter as fotos em algum lugar.
    - É, sou eu mesmo, mas não me lembro desse caso ter ficado tão conhecido.
    - Você se esquece que artefatos antigos e histórias curiosas são o meu trabalho, senão a minha vida. - Pôs-se em pé. - Por onde começamos...

    Ele me contou a história enquanto caminhava em torno do sofá.


    Próxima leitura: "Conhecendo Uran".

6 comentários:

  1. Notas... artefatos... Dyan Esperatus... Uran Gevault... Tudo faz sentido.
    Sessões de RPG usando as regras Daemon... Tudo muito familiar.

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  2. Muito bem observado, embora isso tenha saído da minha cabeça mesmo...
    Não foram sessões de RPG, mas certamente lancei mão das regras da Daemon (Trevas) para o pano de fundo.
    Essa história começa onde pararam as sessões de RPG...
    Foi muito triste para mim quando acabou.

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  3. Seja como for, muito bom. E as vezes, por mais que o RPG possa proporcionar um desenvolvimento interessante para as histórias, algumas delas ficam melhores quando escritas individualmente...

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  4. É verdade. Estou gostando dessas histórias do Dyan. Mas fique tranquilo, vou postar a continuação em breve...

    Abraço.

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  5. hummmm..... eu disse que deveria escrever esssas historias, ta lembrado? kkkk...estao ótimas.

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  6. É, Camila, estou trabalhando nas continuações, mas me falta tempo...
    De qualquer forma, obrigado pelo incentivo, sabe que te adoro!

    Fique com Deus.
    Beijão

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